Seja bem vindo
Norte Araguaia,03/05/2024

  • A +
  • A -

Áreas úmidas do Araguaia – À espera do segundo raio no mesmo lugar! Por Eduardo Gomes Andrade 

Fonte: Eduardo Gomes Andrade 
Áreas úmidas do Araguaia – À espera do segundo raio no mesmo lugar! Por Eduardo Gomes Andrade  Eduardo Gomes Andrade 
Publicidade

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Essa máxima popular pode ser exagero de expressão ou crendice popular e não traduz a realidade, principalmente em se tratando do Vale do Araguaia. Nesta quinta-feira, 12 de outubro, o católico apostólico romano brasileiro dobra os joelhos, eleva as mãos aos céus em súplica à Mãe Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Nesta data dedicada a padroeira, as igrejas a ela consagradas estarão cheia de corações e fé.

Em Mato Grosso será assim em Água Boa, Rondonópolis, Cuiabá, Gaúcha do Norte, Pontal do Araguaia, Tapurah, Terra Nova do Norte, Cotriguaçu, Ipiranga do Norte, Mirassol D’Oeste Itanhangá, Vila Aparecidinha (de Diamantino), Poconé (BR-070), Olho D’Água (de Santo Antônio de Leverger), União do Sul, Simione (de Itanhangá), Santa Carmem e muitas outras localidades, menos em Estrela do Araguaia, nos municípios de São Félix do Araguaia e Alto Boa Vista, no Vale do Araguaia, pois aquela vila e sua Igreja de Nossa Senhora Aparecida foram demolidas pela mão impiedosa do Estado Brasileiro diante da inércia mato-grossense.

Em 12 de dezembro de 2012, a região onde a Igreja de Nossa Senhora Aparecida foi demolida, por analogia foi vítima de um raio, que a qualquer momento poderá cair não somente sobre o local onde a vila se situava e nos 165 mil hectares da mesma área, que se estendiam, também, a Bom Jesus do Araguaia. Esse raio poderá cair sobre 17 municípios do Araguaia, onde o governo estadual teima em criar artificialmente, em termos documentais, áreas úmidas como se aquela terra em processo produtivo, em muitos casos há mais de 50 anos, fosse um grande feudo ambiental em detrimento da realidade.

O raio que demoliu a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, duas escolas, posto de saúde, dezenas de estabelecimentos comerciais modestos e centenas de lares que abrigavam sonhos de trabalhadores de mãos calejadas, pode atingir o Araguaia novamente.

A demolição foi o momento do sangramento para a desintrusão da Antiga Fazenda do Papa, que foi transformada na Terra Indígena Marãiwatsédé, dos xavantes, que ficou famosa pelo arrendamento de pastagens pelo cacique Damião Paridzané, para fazendeiros, que ali encontraram invernadas para dezenas de milhares de bovinos, daquela área antropizada.

A Antiga Fazenda do Papa tinha a área urbana, que era a vila Estrela do Araguaia ou Posto da Mata, no cruzamento das rodovias federais 158 e 242, e zona rural, agora transformada em terras de arrendamento pelo cacique Damião. Está em curso um projeto de zoneamento ambiental conduzido pelo secretário estadual de Planejamento e Gestão, Basílio Bezerra, a mando do governador Mauro Mendes, e essa engenharia burocrática visa engessar e amordaçar o Araguaia e o Vale do Guaporé, na fronteira com a Bolívia, pela mesma pirraça palaciana.

O zoneamento em curso é um atentado contra o governo em sua perenidade e a Assembleia Legislativa, pois em 2008 os deputados aprovaram o zoneamento ambiental mato-grossense e o então governador Silval Barbosa o sancionou, porém, o Ministério Público o achou brando e judicializou a decisão soberana dos dois poderes políticos.

De 2011 até recentemente o tema zoneamento foi mantido a sete chaves, até que aflorou com força. Num imaginário céu sombrio o raio acumula energia para sua descarga fatal sobre mais de 4 milhões de hectares em processo de cultivo e pastagem. Para facilitar a segunda queda da descarga elétrica, o Ministério Público obteve uma liminar que suspende a concessão do licenciamento ambiental nas áreas que uma estranha química palaciana com bafejos forenses e abertos sopros do movimento ecolouco internacional insiste em classificar como áreas úmidas.

Para ocorrer a reversão da liminar judicial será preciso percorrer um longo caminho, com o Ministério Público sempre pronto para apelar aos tribunais superiores. Caso isso ocorra, a decisão volta ao campo político, onde o Araguaia não terá meios para medir forças com Mauro Mendes e os interesses que o movem. Uma recente audiência pública na Assembleia, requerida pelos deputados Dr. Eugênio e Valmir Moretto discutiu o zoneamento. O ato não teve repercussão fora do Araguaia, a imprensa cuiabana o desqualificou e o Legislativo Estadual tratou o tema com a cautela de quem pisa em brasas.

O Sistema Famato, que tem legitimidade para defender a região à espera do segundo raio, adota postura de monge tibetano e seu presidente, Vilmondes Tomain, na audiência fez um discurso chuchu. Representando Mauro Mendes, o deputado federal e chefe da Casa Civil, Fábio Garcia, falou em defender o Araguaia dentro dos ditames da lei. Quando Fábio Garcia discutirá o zoneamento com Mauro Mendes, o seu verdadeiro mentor?

Fábio Garcia, para quem não sabe, é neto do ex-governador Garcia Neto, que estava no poder quando da divisão territorial mato-grossense. Cobri o desembarque de seu avô em seu regresso de Brasília trazendo a decisão do presidente Ernesto Geisel. Antes daquele voo o governante jurava que defenderia o Estado contra a divisão. Com o ato a um passo da consumação, questionei ao assustado Garcia como seria seu procedimento uma vez que Geisel vestia a camisa da divisão. “Vou vestí-la, também”, resumiu.

Fábio Garcia já comprou botas para atravessar as áreas úmidas do Araguaia, quando ali estiver pedindo votos possivelmente ao governo em 2026. Não acreditem que a maioria da Assembleia jogará seu peso em defesa do Araguaia. Quem tem a chave do cofre é Mauro Mendes. Independentemente de quem governe, deputados sempre estarão prontos para defendê-lo. É a base de sustentação em seu sentido mais amplo.

Não busquem o apoio do ministro da Agricultura Carlos Fávaro. Quando vice-governador e secretário de Meio Ambiente no governo de Pedro Taques, Fávaro deixou suas digitais no zoneamento ou raio que está para cair. Haverá choro e ranger de dentes do Araguaia, mas a repercussão externa será pequena. Mauro Mendes passará Merthiolate nas feridas por meio de algumas obras. Cabos eleitorais ficarão calados, pois a queda do raio deverá acontecer em 2024, ano de eleições municipais, quando os partidos enviarão dinheiro para alegria geral de boias-frias eleitorais, vereadores, vice-prefeitos, prefeitos e sisudos senhores do poder econômico.

Neste 12 de outubro, independentemente de sua religião, peça a Deus pelo Araguaia. Quanto aos católicos apostólicos romanos, continuem dobrando os joelhos, elevando as mãos aos céus e suplicando à Mãe Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, mesmo com sua igreja demolida. É preciso continuar crendo, pois a verdadeira igreja é o corpo humano, onde habita o Espírito Santo. Sejam fortes nesta terra de perseguição política e de verdades ditas pelas metades. Viva Nossa Senhora Aparecida!   E viva o Vale do Araguaia!


*Eduardo Gomes de Andrade, o Brigadeiro, é um dos principais jornalistas de Mato Grosso com 50 anos de atuação no setor e autor da Trilogia “DNA do Melhor Lugar do Mundo” que retrata os 300 vultos mato-grossenses do hoje e do ontem recente. 





COMENTÁRIOS

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.